Sempre
fui uma pessoa que pensava racionalmente. Raciocínio rápido. Gostava e ainda
gosto das coisas práticas, rápidas e exatas. Matemática sempre foi minha
matéria preferida. Química e desenho geométrico também tinha muita facilidade.
Minhas notas no colégio nestas matérias variavam entre 9,5 e 10. Matemáticas
por dois anos seguidos eu gabaritei em 10.
Meus
pais tinham formações diferentes, exatas e humanas. Mas nas questões do educar
os filhos, sempre fizeram eu e meus irmãos pensarem. Meu pai sempre com suas
atividades ao ar livre, nos estimulando com o que vinha do exterior. Minha mãe
com as artes e o saber, nos estimulando com o que vinha do nosso interior, o
fazer pensar. Ela nunca dava uma resposta pronta, nos fazia pensar, nos dava
meios para que chegássemos a resposta. Era o famoso: ensinava a pescar, nunca
dava o peixe.
Eu
fui crescendo neste meio paradoxal, mas complementares. Neste indo e vindo de
pensamentos. No turbilhão do ser ou não
ser, eis a questão, ou, no que ser quando crescer. Papai ou mamãe. Qual
caminho seguir?
E
perto do vestibular tinha lá minhas dúvidas de qual carreira seguir, como
qualquer mortal. Então fiz o famoso teste vocacional. E deu Informática ou
Ciências Sociais. Ou isto ou aquilo.
Aí que a coisa piorou. Eu sempre detestei história e tolerava o português
apenas na boa escrita. Não me venha com regras gramaticais, ui, coisinha chata!
Mas como uma pessoa essencialmente paradoxal, e do contra, com opiniões firmes
e fortes, me inscrevi em Ciências Sociais. Todos levaram um susto. Inclusive
eu. Mal sabia o que era isso. Pra que servia a tal profissão. E Informática não
era o futuro? Seria mais lógico e sensato seguir a carreira das exatas.
Quem
me conhece sabe que não sou mulher de seguir o script. Não tenho lógica. Sou imprevisível. Tudo bem, pra
quem acredita em horóscopo, sou aquariana, isso explica muita coisa, ou nada.
Bem,
daí fui fazer a tal Ciências Sociais, me inclinando mais para a Sociologia.
Confesso que fiquei completamente perdida no início, e no meio e fim também.
Mas porque então continuei? Porque sou teimosa e não sigo script, lembram?
Me
formei. Sabe lá Deus como. Na verdade muita teoria só fui entendo ao longo da
vida mesmo. Pra que servia a tal Ciências Sociais, ah!, isso, na verdade,
sempre soube, sempre esteve comigo, mas não naquela época, com aquela idade. É
que também contrariando o curso das coisas naturais, muita gente faz Ciências
Sociais e Filosofia, mas tarde, na idade mais madura, como segunda formação.
Mas sou toda ao contrário, lembram? Continuando o raciocínio de minha formação,
as Ciências Sociais sempre estiveram comigo. Mas de uma forma diferente. Claro,
não achou que eu seria convencional né. Eu sempre pensei no passado como uma
coisa corriqueira. Temos que saber do
passado, para entender o presente e modificar o futuro. É
isso!!! Minha definição de Ciências Sociais. Então entendi, finalmente, porque
escolhi esta profissão para estudar na faculdade. Mas eis que me deparo com a
comunicação, mais especificamente com a comunicação de massa. E eureca. É isso.
Temos que nos comunicar, temos que comunicar este saber, estas teorias, tem que
circular. Eu sempre achei estas teorias todas, no fundo muito chatas. Vamos
logo pra prática. Sou inquieta e impaciente. Daí fiz Comunicação Social, como
forma de transformar esta teoria toda em prática. Mastigar um pouco esta
verborragia e condensá-la objetivamente e de forma simplificada.
Daí,
finalmente entendi o ser paradoxal que sou. Entendi minha formação. A formação
que recebi de meus pais. O exterior e interior, o objetivo do subjetivo, o
intelectual do sábio.
Meus
pais, cada um no seu saber e formação, me ensinaram o valor da caridade e do
amor. Minha mãe na forma do voluntariado, do exemplo prático dos homens. Se
doou por completo para aqueles que não tinham família. Atuava de forma direta.
Ensinando-lhes, professora que era. Meu pai, em seus exemplos de caridade
espiritual, ajudando sem ninguém saber, "não saiba sua mão esquerda o que
fez a direita". Na sua fé inabalável e exemplo de vida e superação. Não
teve o privilégio de ter a formação que minha teve nos melhores colégios, mas
um dos melhores no que se propôs, esportista e corretor de bolsa de valores.
Subiu na vida, nos deu o melhor que pode. Caiu o padrão depois, mas nunca
perdeu sua dignidade e fé.
E
assim entendi, anos depois, e ainda procuro entender cada vez mais, porque
nunca estamos prontos e formados totalmente, minha formação acadêmica e como
ser humano. Hoje entendo o porquê de ter escolhido as Ciências Sociais e não a
Informática. Talvez o caminho da Informática tenha sido mais reto, mais suave.
Mas será que minha formação humanística seria a mesma? Tenho minhas dúvidas. E
volto a afirmar que também pra nós, seres humanos, temos que saber do nosso passado, para entender o nosso presente e
modificar o nosso futuro. Nós somos responsáveis por nossos
atos. Nós escrevemos nossa história. E quem disse que a minha é fácil. Não é. Não
está sendo. Mas para ter acesso a uma linda rosa, tenho que passar pelos
espinhos.
Tem
sempre os chavões, que muitas vezes eu detesto, fico pensando no "infeliz"
que falou, mas que são pura verdades: "pouco com Deus é muito",
"devagar se vai ao longe", "não existe noite sem alvorecer"
e por aí vai.
Mas
duas carrego comigo, sempre: "O senhor é o meu pastor" (mantra de
minha mãe) e "Não há mal que sempre dure nem bem que nunca acabe"
(mantra de meu pai).
Ah, não posso deixar de falar minha poesia preferida. "Ou isso ou aquilo" de Cecília Meireles.
A
de lição de tudo isso: a SABEDORIA.