21/02/2009

Viva os bobos

O texto “Das vantagens de ser bobo”, de Clarice Lispector, me lembrou em muito o “jeitinho brasileiro” do qual se refere o antrópolo Roberto DaMata no livro "Carnavais, Malandros e Herois", em especial o carioca. Hoje parece que o legal é ser mal-educado. O educado, o bobo - mas não burro - como frisa Lispector, é espécie em extinção, rara, que daqui a pouco somente em leilões acharemos. Exageros e brincadeiras a parte, o mundo hoje definitivamente não está pra “bobos”. É estressante. O mundo hoje é dos espertos. O bobo tem que conviver com o esperto que suja a praia, com invasores de calçadas, com furões de fila e por aí vai. Não é fácil ser bobo. Mas bobo tem suas vantagens, segundo Lispector, “tem originalidade, espontaneamente lhe vem a ideia”. E a maior originalidade deles é justamente serem educados, ou eles mesmos.

Os ditos espertos acham que estão levando vantagem. Será? Só sei que quem perde é a educação. Hoje não se tem mais noção do que é certo e errado, do que é legal e ilegal. Há de se ter muito cuidado, porque muitas coisas de tanto serem repetidas se tornam verdades. Não podemos cair neste golpe. Educação é coisa muito séria. E não falo aqui somente da educação de cada cidadão jogar o seu lixo no lixo no final da praia, de não tomar as calçadas como se fossem suas. Falo aqui da educação que vem da base, da educação que começa no jardim de infância (educação infantil) e em casa. Enquanto não se der a devida atenção para melhorar a educação no país com salários adequados, capacitação para os jovens professores e assistência social para as crianças que não têm estrutura familiar adequada - que sofrem maus tratos em casa-, continuaremos a viver sob a ditadura do “jeitinho brasileiro” e do mundo dos espertos.

O bobo não tem pressa. Não quer levar vantagem. Apenas quer a convivência pacífica entre cidadãos. O esperto tem prazo de validade enquanto o bobo é eterno. E viva os bobos!!

19/02/2009

Apressado come crú

Tanto se fala que no jornalismo tem de apurar os dois lados, no mínimo. Bem, no caso da brasileira Paula Oliveira, residente na Suíça, que supostamente teria sido atacada por neonazistas e estaria grávida de gêmeos e teria perdido os bebês, o erro básico está na apuração. Palavras no noticiário como “teria sido” e “supostamente” mostram claramente que não temos as versões finais do caso. Somente com especulação, a meu ver, não se pode noticiar o fato. Em se tratando de brasileiros no exterior, há de se ter um maior cuidado. Não se pode esquecer que a mídia é formadora de opinião e com bases em suposições está ajudando a formar opiniões errôneas, precipitadas. E com especulações vai se vendendo jornal e educando mal o povo. É pena!

Consequencia disto é o “mico” pelo qual o governo brasileiro passou. O presidente Lula saiu em defesa de Paula logo de cara, sem esperar pelos laudos da polícia e médicos. Na sequencia dos fatos a brasileira não estaria grávida, segundo laudos da polícia suíça. O governo brasileiro teve que se explicar para os suíços.

Há aqui dois erros graves nesta história. Primeiro a apuração ineficiente e afobação em logo publicar um fato sem provas. Segundo a precipitação do governo brasileiro em criticar a Suíça.

“Apressado come crú”, já diz o ditado. E o prato desce amargo e salgado nas contas da imprensa brasileira e governo. Quando imprensa e governo vão aprender?