Eu aprendi a gostar de ler lendo poesias. Meus saudosos pais me davam livros de poesias, rápidas e profundas leituras para eu ler. Eu adorava viajar nos versos cheios de cheiro e luz, muitas vezes versos amargos e sombrios, dos poetas. E outras, versos sem nexos para nós mortais, mas com muito sentido pra quem escreve e sente as palavras.
Algumas de minhas escolhas:
OU ISTO OU AQUILO
Ou se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa estar
ao mesmo tempo nos dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo, ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinque, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.
(Cecília Meireles)
Esta minha preferida na fase da infância, refletindo bem meu ser nesta etapa da vida.
NO MEIO DO CAMINHO
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
(Carlos Drummond de Andrade)
Este conheci na adolescência, e a achei genial. Singela e profunda. A primeira vista, boba, mas podemoas vê-la como as pedras que temos em nossa cam inhada da vida. Adoro!
O BAILE NA FLOR
Que belas as margens do rio possante,
Que ao largo espumante campeia sem par!...
Ali das bromélias nas flores doiradas
Há silfos e fadas, que fazem seu lar...
E, em lindos cardumes,
Sutis vaga-lumes
Acendem os lumes
P'ra o baile na flor.
E então — nas arcadas
Das pet'las doiradas,
Os grilos em festa
Começam na orquesta
Febris a tocar...
E as breves
Falenas
Vão leves,
Serenas,
Em bando
Girando,
Valsando,
Voando
No ar!...
(Castro Alves)
Mostra a beleza que é a vida. Simples assim!
UM PÔR DO SOL
A natureza se transforma lenta!
Fica o ocaso mais rubro! Masi bonito!...
O sol, na sua marcha sonolenta,
Mergulha na janela do infinito!
Tudo é silente! Nem sequer um grito
Se escuta pela tarde pardacenta...
O mundo todo torna-se esquisito
E a noite desce plácida e friorenta!...
O sol com os raios seus já sem fulgores,
No desespero dos seus estertores,
Solta um beijo de luz, tinge o arrebol!...
O poeta fica no delírio imerso!
Contemplando os mistérios do universo
No quadro divinal de um pôr do sol!
(Jansem Filho)
Este autor me foi apresentado por meu pai. Um poeta de palavras singelas, marcantes e que escreve de forma rimada, onde as palavras parecem dançar e ter cores.
NOITE
Olho pela janela, silêncio.
Luzes acesas da favela
e faróis que circulam
perdidos na cidade.
Céu fechado com nuvens pretas.
Olho em volta, procuro com
os olhos achar alguém.
Só sinto a brisa
a refrescar meus braços.
De longe ouço barulho
são cigarras que cantam.
Em vão procuro estrelas, a lua e,
não vejo, a não ser escuridão.
Mas de repente, uma presença
estranha ofusca meus olhos.
Olha pra fora, é a luz do dia.
(Cristiana Richard)
Esta de minha autoria. Fiz quando tinha 15 anos.
Que nossas vidas possam ser invadidas por poesias diariamente.
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